quarta-feira, 29 de junho de 2016








O Poeta é Belo

O poeta é belo como o Taj-Mahal
feito de renda e mármore e serenidade


O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore
ao primeiro relâmpago da tempestade


O poeta é belo porque os seus farrapos
são do tecido da eternidade




quarta-feira, 27 de abril de 2016








LIQUIDIFICADO

Sou liquidificado,
tenho de tudo um pouco,
do extremo refinado
a nata do louco.
Em mim se fundem incertezas,
a mentira, a verdade, a ênclise,

o fino, e o grã-fino da pureza,
o radical, e a próclise.
O amargo do fel,
a essência da flor serrana,
o doce do mel,
em mim o amor emana.
Sou forte e frágil,
choro sem dor,
abrigo o lento, sou ágil,
colorido, e incolor.
Tenho de tudo. O saber,
sou neceio, indolente,
sei ganhar e perder.
Sou impuro, mas sou decente.
Sou liquidificável,
misto de tudo,
porém sou amável.

Geraldo Gama

















VIAGEM

Vai sem rumo,
por aí à toa,
rei sem cor'a,
presumo.

Geraldo Gama







sexta-feira, 24 de julho de 2015

 
 
 
 
 
SAVANA

Apegado à vida busco um sonho
o sonho de ser livre como a nuvem de algodão,
ou um bando de aves em revoada
que migra para além das fronteiras fictícias.
Assim fujo dos estereótipos impostos
pelos sonhos maculados dos idiotas,
de narizes aduncos, sem faro,
olhos sem retinas, e íris opacas,
cheios de ideias podres
que imaginam  serem absolutas.
Autóctone levito e delicio meu berarubu,
com jubilo sonho, mesmo que seja o sonho de um só.
Minhas lágrimas encharcam o chão da savana,
e um cheiro de vigarice contamina o contexto,
brotando impuras cascatas, e corruptas cachoeiras,
onde  se abastecem os “moralistas” retóricos,
escudados pela a força  do poder,
e assim fazem chorar as mães do crack,
e perecerem os filhos do tráfico,
todos vitimas  de mundo tribal.



Geraldo Gam

quarta-feira, 15 de julho de 2015


 
MEDO DOS HOMENS

Tenho medo do olhar dos homens,

do olhar de todos os homens,

por não saber quem são os verdadeiros homens.

Tenho medo do riso dos homens,

do sorriso sarcástico dos homens,

do riso que mascara a malevolência dos homens.

Tenho medo da bondade dos homens,

sinto maldade nessa atitude dos homens,

que fingem eternas bondades aos homens.

Tenho medo do amor dos homens,

um amor empedernido no coração dos homens,

amor impudico desses homens.

Tenho medo do aperto de mão dos homens,

uma mão que sela o destino de homens,

que sentencia a vida dos homens.

Tenho medo de me conhecer como um dos homens

pois tenho: o olhar dos homens;

sorriso dos homens;

a bondade dos homens;

o amor dos homens;

a mão dos homens;

só não tenho o poder de alguns homens,

no entanto sou um dos homens.

Geraldo Gama



quinta-feira, 16 de abril de 2015

INVICTUSWilliam Ernest Henley
Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
***
INVICTO
William Ernest Henley
Da noite escura que me cobre,
Como uma cova de lado a lado,
Agradeço a todos os deuses
A minha alma invencível.
Nas garras ardis das circunstâncias,
Não titubeei e sequer chorei.
Sob os golpes do infortúnio
Minha cabeça sangra, ainda erguida.
Além deste vale de ira e lágrimas,
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos ameaçadores,
Encontram-me sempre destemido.
Não importa quão estreita a passagem,
Quantas punições ainda sofrerei,
Sou o senhor do meu destino,
E o condutor da minha alma.
***
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta
William Ernest Henley (23/08/1849 – 11/07/1903)
Nelson Mandela (18/07/1918 – 05/12/2013)